Sexto dia

Acabou o sossego. Passou as duas semanas anteriores em São Paulo, longe da calmaria do mar e dos problemas do trabalho. Por mais incrível que pudesse parecer, a loucura da cidade grande e poluída era o refúgio ideal para a rotina.
Mas já era. Precisou acordar às cinco, vestir o uniforme informal e partir para o batente, montado em sua bike vermelha. Tudo era vermelho e amarelo no seu dia a dia, sem deixar espaço para outras cores.
Por isso, a única coisa que não lamentava era olhar para aquele mar lindo de Deus. Algo que nunca tinha a mesma cor, bastava observar ao longo do dia.
Estacionou seu veículo dentro da sede dos bombeiros e foi recebido com abraços e votos de um bom retorno e feliz ano novo.
Sua tarefa nas primeiras horas de trabalho seria permanecer de plantão ao lado do telefone do 193. Parecia piada, mas era assim que os outros agiam. Tirou um café da máquina, amargo e forte, e sentou-se na banqueta de frente para a rua.
Foi quando ele viu. Aquele boné rosa passando a passos firmes pela pista de corrida. Sua respiração parou por alguns instantes, ele ergueu o corpo e sua mão pairou sobre o telefone. Um toque em seu ombro o acordou de seu transe.
— Ela passa por aqui todas as manhãs...
Não sabia por que, mas a partir daquele momento, tinha a sensação de que sua vida voltaria a ter mais cor.

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